O CASTELO DO CORAÇÃO

 


Trazía-a amparada nos braços, encostada à barriga, um sorriso largo. O deslumbramento começava ainda antes de se rachar o fruto, era gigante, poderoso, toneladas de segredos e estórias que durariam enquanto houvesse vontade a saciar. Depois ele enfiava uma faca muito afiada mesmo no centro do verde brilhante, quase parecia matar um animal selvagem que se escondesse sob a casca dura da melancia, retirava triângulos perfeitos e carnudos de um vermelho sangrento que lhe oferecia com uma exclamação, O castelo, doutras dizia que era O coração por estar mesmo no meio. Ela esticava as duas mãos pequenas e pelos cotovelos pingava um fio peganhento e encarniçado, e a estória? Mais uma talhada? mas tens de prometer que não bebes água ou dentro da barriga ficam rolhas a boiar... Essa era a primeira estória. Depois vinham desenhos com as sementes pretas e o sabor da memória ficou-lhe até aos dias de hoje.