Havíam sempre maçãs e a qualquer pretexto oferecía de mão esticada uma peça, muito lustrada, tão brilhante que se espelhava a boca que nela mordía.
À primeira dentada ficava a observar, imitava os seus nos lábios alheios a colarem-se na pele da fruta, depois a aconchegarem-se para firmar os dentes na carne da maçã, o arrancar, a economia do suco pelas comissuras.
Só então falava.
Que era boa, que maçãs eram sempre coisa boa, como poderiam ser coisa do diabo, de um veneno entregue em mãos como símbolo de um pecado entre os homens e as mulheres.
Depois calava-se ao ver o resto triste roído junto às sementes.
Matara a fome a mais um, mais uma, quantos viessem e se não fosse por apetite, fora gula, paixão ou encantamento do próprio de se ver reflectido no próprio fruto a comer.