BARRIGA CHEIA

 

 
 
Já se deram os vivas, os presentes, já se fizeram os votos, as garfadas e as colheradas, serviram-se e lamberam-se de coisas doces, palavras guardadas em naftalinas verdes com cheiro de pinho que se desembrulharam para encher olhos e barriga, outras tantas na boca se enfartaram. Gulas destas só uma vez ao Ano, valha ao menino que só nasceu uma vez!
 
 
 
 

A BOCA DIZ FOME

 


E também não diz, insinua, o que é muito mais comer e muito mais fome e até apetites além das voracidades da língua, são palavras, são vontades coladas ao céu que não da boca, são por dentro a bater nas paredes do cómodo do coração, são disparos e encontrões, são lábios fechados que se apertam para não saír em convulsões de beijos e saliva e pequenas mordiscadelas que se vão transferindo para a fome do outro e tal como os pássaros, alimentando o outro, e come-se e quer-se mais, diz-se mais e vai-se a ver, saboreado o todo, escutou-se o silêncio a rugir no estômago da refeição desejada.