SABOR A OURO

 

 
Como ouro, em filamentos de ourives ou nacos de gomos carnudos, doces, sumarentas, pequenas ou gigantes de olho aberto escondendo no seu miolo a filharada muito junta e guardada para final como petisco de remate.
 
As laranjas de Dezembro são as que aquecem, as que perfumam, as que protegem, as que enfeitam pelo riso da sua cor e até ajudam a amadurecer outras espécies mais renitentes de se levar à boca antes da época.
 
São as que lembram comidinhas de papa de infância levada à boca contada em estórias inventadas com dedicatórias a todos os membros da família, ao gato, ao cão, ao vizinho, depois em sumos de lanches como trégua do cabelo esfregado após a fuga à chuvada. Em bebidas de namorico perfeitamente arruinadas e a casquinha mordiscada a salvar o mau gosto da despedida...
 
Como ouro, apreciadas no seu todo de fruto absolutamente perfeito, comidas em bocados recordados de outros Dezembros imperfeitos.